Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

26 janeiro, 2007

Tudo muito simples

Tudo muito simples. Você chega lá em casa por volta das uma e meia, pega o finalzinho do almoço, com papai e minha mãe em casa. Apressados como são, nem vão notar sua chegada. Aposto que te darão boa tarde, perguntarão como vai a faculdade, e em questão de instantes já transitarão pela sala como se você não estivesse mais ali. Da mesma forma apressada, vão se despedir, desejando boa tarde e boa sorte nos estudos. Então, pra despistar da empregada, você fica no meu quarto, no computador, ou na televisão, enquanto eu finjo que pouco noto a sua presença. Há mais ou menos umas duas semanas eu venho me demorando bastante pra trocar a roupa pro balé, bem mais que o de costume, só pra empregada perceber, e não estranhar minha demora quando você estiver no meu quarto. Você pode ficar só de meias enquanto me espera, na minha cama, vendo televisão, ou no telefone, sei lá. Só não pode fazer barulho, digo, fazer barulho com a boca sabe? Assim, barulho de gente, de humano, entende? Deixa só o barulho da televisão pela casa. Aliás, não se preocupe com o volume, e se quiser já pode deixar no quinze de uma vez, porque nesse volume não fica nem alto, nem baixo durante o dia. O volume ideal para a empregada não ouvir nossa conversa. Meus pais sempre saem uns cinco minutos antes das duas, e às duas e quinze começa novela na televisão, e nessa hora a empregada nunca sai do quartinho dela. Tão pequenininho o quartinho, coitada, só cabe ela e a televisão. Talvez se fosse mais magrinha a empregada, coubesse também um ventilador, de teto que fosse. Mas então você fica me esperando por volta dessa hora, já sabendo que eu vou entrar e vou fechar a porta rápido, pra empregada esquecer de você. Mas talvez só tenhamos problemas se meu irmão estiver em casa, afinal ele adora você, ia querer ficar lá com você no quarto jogando vídeo game. Caso isto aconteça, não sei o que fazer. Mas penso em algo até lá. Bem, então digamos que tudo dê certo. Você então já deixa as coisinhas de baixo do travesseiro. Eu já até coloquei uns travesseiros a mais na cama, pensando nisso. Então você deixa tudo lá, preparadinho. Eu chego rápido, pra gente aproveitar o máximo de tempo possível, durante a hora da novela, porque depois a coitadinha da empregada sempre vem me oferecer um lanche antes do balé. Não quero que ela desconfie de nada. Se tudo der certo então, desse jeitinho que eu te falei, a gente relaxa e aproveita. Não esquece do perfume, do chocolate, do lixinho, nem do colírio. Não posso chegar no balé com cheiro de maconha. A vaga vai ser minha, eu tenho certeza, e por isso ninguém pode desconfiar da minha carta na manga. Bem, então é isso, espero que dê tudo certo. Um beijinho pra você Helô, da sua crazy-most-beautifoul-friend, Rê.