Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

26 agosto, 2007

O amor acaba com ela

O amor acaba com ela. Acaba com seus dias, acabou com suas noites e com o café da manhã. Não lê mais o jornal, assiste televisão no mudo e se movimenta todo o tempo. O amor acaba com o seu sorriso, uma pena pois é tão bonito. Acaba com a sua calma e acabou com a sua casa. Não faz mais seu trabalho, não compra mais seus livros, não quer fumar cigarros e tem pânico de solidão. O amor acaba com suas vontades, depredou seu coração, acabou com suas roupas e a fez cortar as mãos. O amor acaba com seu pequeno jardim, resseca suas flores e empoeirou a sua vida. O amor manchou suas paredes, arranhou seus discos e faz olheiras profundas. Não dorme seu sono, toma remédios e acorda em depressão. O amor num copo de uísque com gotinhas de lágrimas que descem dos olhos vermelhos. O amor na marca de batom na gravata esquecida. Nos gritos de porque, porque tinha de ser assim, gritos de não agüento mais, não precisava ser assim, gritos de a vida não vale nada. O amor que desequilibra o seu redor, que desgoverna a linha do tempo da sua vida. Que estraga sua comida, que mofa seus morangos e não paga suas contas. O amor que não desiste fácil daquele copo cheinho de uísque. Não há sorvete, caminhada, bicicleta e chocolate. Não há os quadros, não há a música, mas há nove aspirinas. E próximo do minuto final, o amor de quem amou de mais e descobriu no fim das contas que tudo não passou de uma paixão que já passou. O amor acaba como num filme, no sonho que dura o um minuto suficiente para fazer brotar aquelas dores na alma. Então acordada dez pras nove ela ainda não sabe por onde começar.