Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

23 maio, 2009

Livrarias portguesas em Paris - II

A dona da livraria já fechava o estabelecimento quando cheguei na terça-feira. Pedi somente 5 minutos para escolher algo. Apressada logo me perguntou se eu sabia pelo o que procurava e um pouco intimidado respondi "Saramago ou Lobo antunes". Surpresa pelo interesse em Lobo Antunes, me trouxe 2 exemplares os quais considerava essenciais para a compreensão da obra de Antonio Lobo Antunes. Ignorou meu pedido de Saramago. Me disse que deveria levar OS CUS DE JUDAS, pois além de ser tratado como um grande clássico pela academia francesa e portuguesa, aquela edição era de bolso e muito barata. Me trouxe também O ESPLENDOR DE PORTUGAL. Me contou que Lobo Antunes é um médico psiquiátra que lutou na guerra de Angola, e sua literatura é toda reflexo destes dois aspectos de sua vida. Levei ambos os livros e retornei com mais calma no sábado seguinte. Em lugar da moça estava um senhor português que insistia em falar comigo em francês mesmo depois de eu explicar que era brasileiro. Então encontrei livros por 3 euros, todos empilhados numa estante cuja uma plaquinha indicava "livros com defeito ou usados". Ali havia uma coleção inteira de coletâneas de crônicas de grandes autores brasilerios, Olavo Bilac à Ferreira Gullar. E comprei a coletânea do Ferreira Gullar, poeta maior, tenho profunda simpatia por sua figura, seu caráter revolucionário, homem do Maranhão.
Ao sair da livraria busquei o aconchego do Cafe Dublin na Rue Lacepede, onde iniciei a leitura das crônicas de Gullar. Mas que maravilha!
Por quase duas horas permaneci ali extasiado com o texto do poeta. Tomei dois cafés e quando a chuva parou segui rumo ao Louvre onde planejei fazer um rápido piquenique nos jardins com os biscoitos e croissants que tinha na mochila e depois visitar pela 3ª vez a Grande Galeria e admirar pinturas francesas e italianas do século XIX. Abri o pacote de biscoitos enquanto lia outras crônicas. Não havia como parar. Sempre gostei dos textos dominicais que Ferreira Gullar escreve na Folha de São Paulo na última página do caderno Ilustrada. Mas algo foi diferente desta vez. Tanto prazer em desvendar estes textos que decidi por em prática uma temporada de exercícios de crônicas, botar os dedos na forma. De tanto fuçar em blogs de quinta categoria na busca frenética por textos em português, acabei perdendo um pouco da boa referência.
Quando cheguei em Paris não sabia falar francês, mas fui aprendendo.
Quando cheguei em Paris nunca tinha escrito uma crônica, mas vou aprendendo.