Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

23 maio, 2009

Livrarias portguesas em Paris

Durante meus primeiros 40 dias em Paris sofri por não encontrar livros em português. Aterrissei apenas com dois romances na bagagem certo de encontrar em esquinas livros do mundo. Por experiência própria sabia que no meu tradicional ritmo de leitura ambos não durariam mais que um mês. Ao perceber que estava diante de uma questão difícil de resolver tomei a decisão de iniciar meu programa de racionamento da leitura. De segunda a sexta-feira eu não lia literatura, somente vasculhava a internet em busca de blogs e resenhas literárias. Aos sábados e domingos passava minhas tardes em importantes paisagens parisienses lendo os romances que trouxera. Tentei livros em inglês e espanhol, mas não encontrei o mesmo prazer. Num lance do acaso ouvi falar do festival de cinema brasileiro em Paris. Minha salvação. Durante três semanas frequentei diariamente o Cinema Nova Latina, na Rue do Temple no Marais, entre documentários e inéditos de ficção. Alivei bastante minha fome de lingua portuguesa, de idéias em português. Em outra postagem falarei do festival. Lá conheci muitos brasileiros e tive acesso a folhetos e flyers dos patrocinadores do evento, um dos quais uma pequena loja de produtos do Brasil. Logo descobri que tinham de tudo um pouco, menos livros "ninguém pede livros, mas tem shampoo, sabonete, arroz e feijão...", desliguei o telefone e fiquei frustado. Liguei de novo e veio a dica "olha, procura na internet livrarias portuguesas, tem aos montes!". Encontrei três endereços. Com mapa na mão encontrei a primeira, nome imponente, LIVRARIA CAMÕES, com plaquinha e tudo:"est Fermé". A livraria acabou, não mais existia. Foi foda, tive até depressão, um dos sábados mais tristes da vida. Segunda-Feira continuei a busca. Sai do trabalho e fui a procura do segundo endereço. Encontrei uma bela vitrine repleta de títulos familiares e interessantíssimos. Na porta um pequeno bilhete explicando o motivo do não funcionamento do estabelecimento naquela segunda-feira de Maio, um dia excepcional de não funcionamento. Senti angústia mas fiquei tranquilo, em 24 horas teria eu a oportunidade de finalmente comprar livros do Brasil e Portugal, e dar fim a esta bosta de racionamento de leitura. É engraçado por que todos os conhecidos sempre me alertaram para todo tipo de problema, desde dificuldades para comer até terroristas no metrô. Ninguém nunca falou sobre a escassez dos livros.