Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

02 junho, 2009

Sambando na lama de sapato branco

A música que toca no Montmartre é muito boa. Pianos e baterias que armam um pano de fundo fundo jazzístico parfeito para um fim de tarde de céu azul e brisa agradável. Fui descendo a colina com o jazz na cabeça. Quando atravessei a última rua antes do metrô deu curto, e chico buarque surgiu de repente. Segui cantarolando.
Quando fico resfriado evito cantar, fico apenas sussurrando melodias. Caminhei tranquilamente pela plataforma do metrô e sentei num lugar onde não havia ninguém justamente para poder cantarolar em paz. Um casal dos mais estranhos sentou bem ao meu lado. O rapaz era ruivo como meu primo João Vitor, e sardento como minha namorada Rafaela. A moça tinha cara de gente que vem do Vietnã ou Tailândia. Ficaram falando baixo, expressões estranhas, tal qual muitos casais por aqui. Eu fiquei aborrecido com a chegada deles, perdi o clímax de cantarolar a música do chico. Quando fico resfriado minha voz fica horrível, não consigo acertar uma nota. Fiz de propósito, cantei alto para incomodâ-los, "sambando na lama de sapato branco, o grande artista tem que dar o show...". O olhar fulminante que a moça do Vietnã lançou em minha direção não deixou dúvidas e eu imediatamente fiz a pergunta "brasileiros". "Sim, e você também né", disse o rapaz com um semblante de alívio. Perguntei se moravam aqui ou estavam de passagem, disseram que de passagem. O rapaz mora na alemanha. São de Florianópolis. Antes que eu dissesse de onde eu sou eles já foram afirmando "carioca né, o sotaque não nega". Perguntei até qual estação seguiriam e disseram "saltamos na próxima". Me restou comentar como Paris é bonita, e como resposta o rapaz disse "é tudo bonito, mas eu quero ir embora, estou há 5 meses e sinto falta do Brasil". Eu respondi que é foda mesmo, "eu vivo sozinho aqui, é mais difícil". Em poucos segundos o trem chegou na estação seguinte e ele ainda dizia que tem um primo morando com ele, o que tornou a adaptação mais fácil. O trem parou e as portas se abriram, "bom, foi um prazer, boa sorte", "prazer, boa sorte". Mais duas estações e eu cheguei em meu destino. Fui saindo da estação feliz da vida e cantando, "sambando na lama de sapato branco, o grande artista tem que dar o show". O único pedaço da musica que eu lembro

2 Comments:

Blogger Daniel Fonseca said...

Agora aprende....

"Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o tom
Quase rodando, caindo de boca
A voz é rouca mas o mote é bom
Sambando na lama e causando frisson

Mas olha só
Um samba de cócoras em terra de sapo
Sapateando no toró

Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar lição
Quase rodando, caindo de boca
Mas com um pouco de imaginação
Sambando na lama sem tocar o chão

E o tal ditado, como é?
Festa acabada, músicos a pé
Músicos a pé, músicos a pé
Músicos a pé

Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem fazer fé
Quase rodando, caindo de boca
Aba de touca, jura de mulher
Sambando na lama e passando o boné

Mas olha só
Por fora filó, filó
Por dentro, molambo
Cambaleando no toró

Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o que tem e o que não tem
Tocando a bola no segundo tempo
Atrás de tempo, sempre tempo vem
Sambando na lama, amigo, e tudo bem

E o tal ditado, como é?
Festa acabada, músicos a pé
Músicos a pé, músicos a pé
Músicos a pé

Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que estar feliz
Sambando na lama de salvando o verniz

Mas olha só
Em terra de sapo, sambando de cócoras
Sapateando no toró

Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que estar tranchã
Sambando na lama, amigo, até amanhã

E o tal ditado, como é?
Festa acabada, músicos a pé
Músicos a pé, músicos a pé
Músicos a pé"

7:31 PM

 
Blogger Thiago Almeida said...

realmente muito pertinente sua colocação. obrigado pelo complemento

9:49 PM

 

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