Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

09 setembro, 2008

Poema ?

Mas hoje não.

Vá escrevendo bilhetes que os leio depois.

Rabisque nas primeiras páginas dos meus livros favoritos seus recados.

Esgote cada garrafa de vinho aberta na geladeira.

Tire os trocados da minha carteira com que compro café em botequins.

Ligue a televisão, comente sobre a violência da cidade, chore vendo a novela.

Me peça para escrever uma música para você, me peça até para comprar flores.

Puxe conversa em francês, comente sobre seus arrependimentos.

Me pergunte sobre deus, sobre Marx e a revolução, questione minhas contradições.

Investigue meu passado, meus rascunhos, meu HD.

Reclame das minhas compulsões, exija que eu pare de gritar tão alto.

Vá quebrando a ponta de cada lápis que eu aponto, esconda o apontador.

Esconda a caneca de Pablo Neruda, esconda o mini-cristo redentor.

Me peça para cozinhar para o jantar, escolha o volume da música.

Repita que talvez "nós dois" seja um erro, que já deveríamos ser apenas o quadro na parede.

Mas hoje não.