Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

08 fevereiro, 2007

Cinema: Manderlay de Lars Von Trier

A minha justificativa para tratar de cinema nestas bandas é simples: quem assiste o filme legendado está lendo. E bastante.

Serei breve. Manderlay é o segundo filme da triologia de Lars Von Trier. O primeiro foi Dogville, na minha opinião primoroso. A continuação tem muitas qualidades no que tange a linguagem cinematográfica adotada pelo diretor dinamarquês. Contunua funcionando bem.

O trabalho dos atores permanece muito interessante e original, bastante adequado ao formato do filme. Me chamou atenção porém uma sutil mudança na lógica do enredo. Quando tudo se encaminha para desfechos semelhantes aos de Dogville, Manderlay surpreende, ganhando folego necessário para sobreviver fora das asas do primeiro filme.

De qualquer forma, a crítica à estrutura de pensamento dos EUA permanece ferrenha.
De qualquer forma, ainda sendo um primor cinematográfico, permanece indigesto para percepções hollywoodianas.

Sugestão

Apenas como sugestão para um requintado exercício literário, sugiro a leitura de Truman Capote, seguida da de Caco Barcelos, jornalista da Rede Globo que produziu duas importantes obras do jornalismo literário brasileiro: "O abusado" e "Rota 66".

Tanto as os dois livros citados a cima, quanto "A sangue frio" de Capote, tratam da criminalidade, relatam assassinatos, e procuram uma investigação profunda dos fatos ocorridos.
"Investigação profunda" foi por minha conta mesmo. Leiam para discordar, ou concordar.

uma sugestão de exercício literário com o objetivo da discórdia.

"A sangue frio" de Truman Capote

Não sou fã de literatura americana. Mas impressiona o vigor do jornalista Capote em sua obra-prima "A sangue firo". O livro inagura o formato do "livro reportagem", ou Jornalismo Literário, denominação que a Companhia das letras (que recentemente publicou a obra no Brasil , em paralelo ao lançamento de "Capote", que concorreu ao Oscar de melhor filme, e retrata os bastidores da criação de "A sangue Frio") optou por utilizar para caracterizar este gênero literário.

São mais de 400 páginas de uma narrativa extremamente consistente, permeada por evidentes traços jornalísticos, porém repleta de ares de ficção. O leitor tem a clara sensação de estar diante de uma história inventada pelo autor. Cerca de meio século depois dos crimes relatados por Capote, talvez seja difícil perceber o impacto que a obra teve quando de seu lançamento. Ainda sim, fica a sugestão, principalmente para os intelectuais jornalistas, aqueles em formação (exatamente aqueles que ainda pensam que a formação tem um fim, ao invés de entenderem ela como um eterno processo), de um exemplo de texto vigoroso, objetivo, completamente sem excessos, ao mesmo tempo literário e capaz de manter o leitor preso com intensidade no decorrer da narrativa.

Quem não lê, não escreve.

meus abraços, sinceros, a vocês futuros jornalistas, seus intelectuais.