Há um vício em andamento. As letras vivem seu pequeno deleite sempre que por elas passam os olhos dos leitores. A vida há nas letras ou nos olhos de quem lê? sentencia o conhecedor: há de ser nas mãos de quem escreve. Evite esforço, aqui não há espaço para respostas. É a contrução que nos interessa, o caminhar, o processo, a empresa de fazer um pensamento. Espaço da criação do futuro da literatura brasileira. Ler e escrever: o remédio para o vício da criação.

31 maio, 2009

Louvre, como se num quintal

Sexta-feria passada eu tinha as narinas prejudicadas e uma leve ardência na superfície da pele, anunciação de que uma febrezinha enjoada viria pela frente. Tive uma jornada intensa de trabalho, rotina própria dos dias chuvosos e frios. Mas estamos em Paris, e aqui os deuses do tempo têm tramas interessantes. Foi o relógio acertar seu ponteiro nas dezenoves horas e como se num ensaio geral as nunvens correram todas para a cochia. Assim como quando se apaga luz sombria e artificial do teatro e surge a iluminação que vem do palco anunciando o início do espetáculo, o céu de Paris em minutos anúnciou sua cor azul a ponto de fazer pensar os desavisados que mar e céu haviam invertido posições.
Decidi aproveitar o belíssimo cenário para caminhar pelo Louvre e fotografar o jardim de Tuleries. E assim o fiz por cerca de três horas. Não resisti e entrei no museu, fui em setores já visitados somente para fotografar. Não vo uficar fotografando obras, acho isso um pouco chato pois tira o brilho para os que ainda não conhecem pessoalmente. Meu interesse foi registrar a arquitetura do museu, traços que ajudam a decifrar os contornos de sua alma. Sim, porque o Louvre tem alma. Paro por aqui e convido os leitores deste texto a ver as fotos no meu orkut. Criei um album chamado "Louvre, como se num quintal". Tirem suas conclusões.
Em setembro Umberto Eco fará duas conferências no Anfiteatro do Louvre. Em homengem ao professor italiano, tão querido por mim, fiz o exercício de fotografar cenas que ofereçam espaço para o leitor interpretar como queira as fotos. É a obra aberta.

24 maio, 2009

The National Gallery em Londres

Na última quinta-feira 21 de maio aproveitei o feriado em Paris para uma viagem há muito desejada: conhecer Londres e seus grandes museus. Confesso que uma das coisas que muito têm me encantado na Europa é forma bointa com que o passado é tratado, o cuidado destinado à preservação do patrimônio histórico. E fico sempre muito feliz por entrar nos museus (todos, sempre) e observar a quantidade de crianças presentes. E assim cheio de expectativas adentrei precisamente às 10:08 da manhã no The National Gallery, situado no coração de Londres em Trafalgar Square. Seu acervo basicamente é composto por pinturas Européias entre os séculos XII até o XX. As obras expostas são divididas por períodos, com exceção de trabalhos específicos de Picasso que estão numa sala separada e exclusiva. Não quero descrever o museu, acho isso desnecessário e chato, afinal tira um pouco da graça para os que lá ainda não estiveram. Então escrevo este texto para tratar de dois aspectos me martelam as idéias desde que retornei a Paris anteontem. Primeiramente, não quero que as palavras me soem em tom de esnobismo, mas foi dundamental "ver" ao vivo Rembrandt, Monet, Manet, Da Vinci, Picasso, Rafael, Michelangelo, Velasquez, Van Gogh, Gaugin, Renoir etc. Sim, é totalmente diferente de ver nos livros. Principalmente Renoir, o qual muito me impressionou a ponto de me fazer comprar um livro sobre sua vida e obra na lojinha da The National Gallery. Foi como ouvir Walter Benjamin sussurrando ao meu ouvido sobre a "aura" da obra de arte. Foi como uma viagem ao passado, até Setembro de 2003 quando assisti minhas pimeiras aulas na faculdade de jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. Em Teoria da Comunicação I discutíamos a questão da reprodutibilidade técnica via um dos embates teóricos mais famosos da academia alemã: Adorno x Benjamin. Naquela época fiquei a favor do segundo, afinal me parecia plausível a idéia de que a arte deve sim chegar às massas, mesmo que via reproduções que deturpem seus significados, suas possbilidades. Então retomo meu comentário e reafirmo que SIM, é fundamental conhecer a grande arte ao vivo, botar os pés nos grandes museus, para que se sinta o quão difícil é andar por aquelas alamedas, pois que pesa, muito pesa sobre as pernas a aura daqueles que pindurados nas paredes estão. Então fico com Adorno. O segundo ponto sobre o qual gostaria de tratar é simples e obvio para os que conhecem minhas idéias e obssessões: como transpor isso tudo para o Brasil. Temos história que é nossa, temos arte que é nossa, e temos nossa música que muito é respeitada neste velho mundo. o Europeu reverência as curvas de Niemeyer, as harmonias de Jobim e agora estão lendo o leite que Chico Buarque derramou. Em próximo texto vou tratar sobre minhas impressões a cerca do jovem europeu, suas possibilidades, suas limitações. Mas começo a entender a fundo o que Stephe Zweig enxergou quando nos chamou de país de futuro.

23 maio, 2009

Livrarias portguesas em Paris - II

A dona da livraria já fechava o estabelecimento quando cheguei na terça-feira. Pedi somente 5 minutos para escolher algo. Apressada logo me perguntou se eu sabia pelo o que procurava e um pouco intimidado respondi "Saramago ou Lobo antunes". Surpresa pelo interesse em Lobo Antunes, me trouxe 2 exemplares os quais considerava essenciais para a compreensão da obra de Antonio Lobo Antunes. Ignorou meu pedido de Saramago. Me disse que deveria levar OS CUS DE JUDAS, pois além de ser tratado como um grande clássico pela academia francesa e portuguesa, aquela edição era de bolso e muito barata. Me trouxe também O ESPLENDOR DE PORTUGAL. Me contou que Lobo Antunes é um médico psiquiátra que lutou na guerra de Angola, e sua literatura é toda reflexo destes dois aspectos de sua vida. Levei ambos os livros e retornei com mais calma no sábado seguinte. Em lugar da moça estava um senhor português que insistia em falar comigo em francês mesmo depois de eu explicar que era brasileiro. Então encontrei livros por 3 euros, todos empilhados numa estante cuja uma plaquinha indicava "livros com defeito ou usados". Ali havia uma coleção inteira de coletâneas de crônicas de grandes autores brasilerios, Olavo Bilac à Ferreira Gullar. E comprei a coletânea do Ferreira Gullar, poeta maior, tenho profunda simpatia por sua figura, seu caráter revolucionário, homem do Maranhão.
Ao sair da livraria busquei o aconchego do Cafe Dublin na Rue Lacepede, onde iniciei a leitura das crônicas de Gullar. Mas que maravilha!
Por quase duas horas permaneci ali extasiado com o texto do poeta. Tomei dois cafés e quando a chuva parou segui rumo ao Louvre onde planejei fazer um rápido piquenique nos jardins com os biscoitos e croissants que tinha na mochila e depois visitar pela 3ª vez a Grande Galeria e admirar pinturas francesas e italianas do século XIX. Abri o pacote de biscoitos enquanto lia outras crônicas. Não havia como parar. Sempre gostei dos textos dominicais que Ferreira Gullar escreve na Folha de São Paulo na última página do caderno Ilustrada. Mas algo foi diferente desta vez. Tanto prazer em desvendar estes textos que decidi por em prática uma temporada de exercícios de crônicas, botar os dedos na forma. De tanto fuçar em blogs de quinta categoria na busca frenética por textos em português, acabei perdendo um pouco da boa referência.
Quando cheguei em Paris não sabia falar francês, mas fui aprendendo.
Quando cheguei em Paris nunca tinha escrito uma crônica, mas vou aprendendo.

Livrarias portguesas em Paris

Durante meus primeiros 40 dias em Paris sofri por não encontrar livros em português. Aterrissei apenas com dois romances na bagagem certo de encontrar em esquinas livros do mundo. Por experiência própria sabia que no meu tradicional ritmo de leitura ambos não durariam mais que um mês. Ao perceber que estava diante de uma questão difícil de resolver tomei a decisão de iniciar meu programa de racionamento da leitura. De segunda a sexta-feira eu não lia literatura, somente vasculhava a internet em busca de blogs e resenhas literárias. Aos sábados e domingos passava minhas tardes em importantes paisagens parisienses lendo os romances que trouxera. Tentei livros em inglês e espanhol, mas não encontrei o mesmo prazer. Num lance do acaso ouvi falar do festival de cinema brasileiro em Paris. Minha salvação. Durante três semanas frequentei diariamente o Cinema Nova Latina, na Rue do Temple no Marais, entre documentários e inéditos de ficção. Alivei bastante minha fome de lingua portuguesa, de idéias em português. Em outra postagem falarei do festival. Lá conheci muitos brasileiros e tive acesso a folhetos e flyers dos patrocinadores do evento, um dos quais uma pequena loja de produtos do Brasil. Logo descobri que tinham de tudo um pouco, menos livros "ninguém pede livros, mas tem shampoo, sabonete, arroz e feijão...", desliguei o telefone e fiquei frustado. Liguei de novo e veio a dica "olha, procura na internet livrarias portuguesas, tem aos montes!". Encontrei três endereços. Com mapa na mão encontrei a primeira, nome imponente, LIVRARIA CAMÕES, com plaquinha e tudo:"est Fermé". A livraria acabou, não mais existia. Foi foda, tive até depressão, um dos sábados mais tristes da vida. Segunda-Feira continuei a busca. Sai do trabalho e fui a procura do segundo endereço. Encontrei uma bela vitrine repleta de títulos familiares e interessantíssimos. Na porta um pequeno bilhete explicando o motivo do não funcionamento do estabelecimento naquela segunda-feira de Maio, um dia excepcional de não funcionamento. Senti angústia mas fiquei tranquilo, em 24 horas teria eu a oportunidade de finalmente comprar livros do Brasil e Portugal, e dar fim a esta bosta de racionamento de leitura. É engraçado por que todos os conhecidos sempre me alertaram para todo tipo de problema, desde dificuldades para comer até terroristas no metrô. Ninguém nunca falou sobre a escassez dos livros.

Crônicas - E o mundo não se acabou

Desde 05 de abril de 2009 vivo em Paris. Meu projeto inicial seria o de aproveitar minha estadia de 6 meses na França para produzir um livro de ficção, talvez romance talvez coletânea de contos. Entretanto dois problemas básicos e interligados me desconectaram completamente de meu foco literário, acabei perdendo inspiração. Sou daqueles que para fazer uma música precisa ouvir muita música. E o mesmo se dá no campo da criação literária, não há texto se não leio muitos textos.
Cheguei a Paris apenas com dois romances na bagagem: REPARAÇÁO do inglês Ian McIwan, e A QUARENTENA do francês recém prêmio nobel Le Clezio. Minha aposta foi a de levar pouca coisa, certo de encontrar livros em português com facilidade em Paris. O triste engano me levou ao estado de precupação responsável por me paralisar, nada escrevi desde então.
Depois de uma procura hercúlea encontrei uma pequena livraria portuguesa escondidinha atrás da Rue Moffetard, em Place Monge 5eme. Seus livros são dedicados aos estudantes de língua e literatura portuguesa e brasileira em Paris. Então nasci de novo e agora repleto de leituras especiais retomo minha produção de textos.
Porém abro mão de meu plano inicial e escreverei crônicas para este blog.
Na próxima postagem explicarei melhor esta motivação, já em forma de crônica.


Muito obrigado por visitarem este blog.

Espero que seja ao menos divertido.

Thiago Almeida