A história de Joaquim Monteiro
"Não conheço Joaquim Monteiro preso neste quartel".
Na tarde mais importante de minha vida dediquei todo meu tempo aos sorvetes e à língua de Carmem.
Nos banquinhos de uma Cinelândia fresca de inverno eu não me cansava de por o nariz na boca de Carmem e inspirar o aroma anestésico que aquela mulher trazia na alma.
Carmem efetivamente possuia o dom da anestesia. Eu, besta, possuia nada mais que bolsos repletos de livretos e anotações monotemáticas riscadas em papéis de mesas bar.
Mas na vida tudo o que não é dor é davaneio. E pegaram Carmem assim.
E riscaram o abdomen de Carmem de fora para dentro. E abriram seu tronco feito manga no verão e por minutos intermináveis inalaram extasiados o perfume selvagem de dentro dos ossos quebrados de Carmem. A deixaram viva com as vísceras expostas, feito um jardim bonito de camélias e crisântemos.
E me pegaram.
E riscaram minhas pernas com fios elétricos e puseram meus pés em baldes de água fria durante mais de sete dias. Esmurraram meu fígado até a carne moer.
Graças a deus tenho braços fortes.
Sou Joaquim Monteiro e decidi contar minha história neste blog de Thiago Almeida.